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QUEM SOU ALÉM DOS PAPEIS QUE REPRESENTO?

Os filhos naturalmente fazem e gostam do que os pais gostam e fazem, em um processo de imitação, justamente porque os pais representam o primeiro exemplo a ser seguido.


Na infância e na juventude a criança precisa de um contorno exemplificativo para poder moldar sua vida. Essa repetição é saudável por um determinado tempo.


Porém os filhos não podem seguir suas vidas imitando os pais. Eles precisam ter a consciência do que desejam para a vida, sob pena de viverem a vida dos pais e não desenvolverem autonomia psíquica.


Quando o jovem consegue fazer esse deslocamento dos pais, com o auxílio destes de preferência, acaba, de regra, substituindo a imitação paterna/materna pela das instituições.


Assim buscamos na religião, na escola, no trabalho, no estado, no judiciário o parâmetro do que deve ser feito ou deixado de fazer. As instituições se tornam nossos “mediadores”.


Procuramos no direito/leis a regulação do nosso viver em sociedade. Faço ou deixo de fazer determinada conduta porque a lei me obriga ou me proíbe.


Nos falta, ainda, a autonomia.


Muito comum o indivíduo chegar aos seus 30/40 anos e perceber que muito do que desejou ou fez não eram desejos seus, mas uma imitação, seja dos pais ou das instituições.


Ele é pai/mãe, marido/mulher, empregador/empregado, mas não sabe quem é além dos papeis que representa.


A modernidade nos obriga a fazer um “deslocamento para o indivíduo do poder psicológico conferido às instituições” (James Hill - “A passagem do meio”). Para que essa transição aconteça de forma menos dramática, é preciso exercermos o domínio de nós mesmos, o que só é possível pelo autoconhecimento.


Esse retorno ao indivíduo, chamado por Jung como individuação, ocasiona crises existenciais necessárias que, após serenadas em seu processo íntimo particular e com a soma dos movimentos iguais de uma coletividade de indivíduos, refletirá também nas instituições.


É o que temos visto no judiciário. Um reflexo desta autonomia psíquica adquirida por muitos, compreendendo que o conflito é gerado pelos sujeitos e é por eles que deve ser gestado e transformado.


A delegação para um terceiro dizer o que cada um precisa fazer se torna sem sentido, frente à noção de que só eu sei o que é preciso para minha caminhada. Esse sentido que adquiro com o autoconhecimento é inclusivo e não egoístico.


Quem adquire esta autonomia psíquica, esta maturidade social assume a responsabilidade dos atos e suas consequências, sem que um terceiro lhe diga como agir.


Assim saímos da infância psíquica, em um movimento que transpassa o ego. Não ficamos apenas na personalidade criada, voltamos para a integralidade do ser, para a nossa natureza, com influências diretas nas relações e nas instituições.


Fica a indagação: quem sou eu, além dos papeis que represento?

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